A Árvore e a Sepultura
Tramas Espantosas

Conta-se que em meados do século XVIII havia uma condessa incrédula vivendo na Alemanha, cujo nome era Carolina, que combatia tudo que estivesse relacionado com a Bíblia. Ela era viúva, rica, e tinha uma cunhada pobre chamada Dorotéia, a quem desprezava por ser de classe social inferior à sua.

Embora fosse generosa em suas doações à sociedade em situações de crise, Carolina nada fazia pela cunhada, negando-se até a recebê-la quando esta tentava pedir-lhe alguma ajuda.

Conta-se que, antes de morrer, o marido de Carolina a fizera prometer cuidar da cunhada e de seus filhos, pois ele mesmo havia prometido isso ao irmão quando este morreu, vítima de ferimentos sofridos na guerra ao salvar-lhe a vida. Porém, morto o marido, Carolina sentiu-se livre para relegar a cunhada e seus filhos ao desprezo e ao esquecimento, ainda que, não fosse por causa do marido desta, ela própria não teria a riqueza alcançada pelo esposo depois de ter a vida salva pelo cunhado ao custo da dele própria.

Segundo o relato, Carolina morreu com cerca de trinta anos de idade e, sendo uma pessoa “infiel”, ordenou antecipadamente que sua sepultura fosse totalmente lacrada com pedras num ato de desafio ao Céu, uma vez que não acreditava na vida futura, e que se escrevesse em seu túmulo a seguinte frase: “Este túmulo foi comprado por toda a eternidade. Nunca mais será aberto”.

O relato prossegue afirmando que tudo foi feito conforme ela determinara, inclusive a inscrição desafiadora que garantiria seu “descanso”. Contudo, para provar que os seres humanos não podem desafiar o Criador, uma semente brotou em baixo da pedra principal da tumba, crescendo até tornar-se uma árvore que abriu a sepultura, deixando uma lição às gerações futuras.

Uma história interessante, não é? Na verdade, os relatos mais conhecidos dão ênfase à emoção humana ao se ressaltar o desprezo de Carolina pela cunhada Dorotéia, seu descaso com a promessa feita ao esposo João em seu leito de morte e seu desafio ao Céu ao tentar criar uma sepultura que não poderia ser aberta.

Durante muitas décadas livros, periódicos e publicações de toda espécie citaram esta história tirando belas lições do relato. Mais do que isso, milhares de pregadores das mais variadas denominações religiosas repetem este relato fazendo aplicações a respeito dos resultados de alguém desafiar a DEUS. O túmulo de Carolina ainda existe e é um local frequentemente visitado por turistas em Hanover, na Alemanha.

Só tem um problema: Não foi isso o que aconteceu. Séculos já se passaram desde que os verdadeiros fatos ocorreram e a história que hoje é popularmente conhecida é, na verdade, baseada em contos e em tradição religiosa, mas não em fatos reais.

Se você pesquisar algo sobre a condessa Carolina de Rueling, de Hanover, na Alemanha, vai encontrar apenas o relato popular citado no início ou até informações aparentemente confirmatórias, como referências à “batalha de Nauheim” ou ao “eleitor e rei Jorge III de Hanover-Inglaterra”, citados no relato original. Vários outros detalhes citados parecerão dar substância à história, dando a entender que se trata de um relato verídico. Mas a verdade é que os fatos não ocorreram como são contados.

O historiador alemão August Ludwig von Schlözer (1735-1809) escreveu: “Tolo é aquele que nunca lê um jornal; ainda mais tolo é aquele que acredita no que lê só porque está escrito no jornal”. A parte final da frase é a mais interessante, especialmente agora, quando as pessoas estão compartilhando de tudo pelas redes sociais sem se darem conta de que grande parte das informações compartilhadas não passam de boatos. Não é sem motivo que a Bíblia diz que “O inexperiente acredita em qualquer coisa, mas o homem prudente vê bem onde pisa” (Prov. 14:15). Você prefere ser uma pessoa experiente e não uma pessoa tola, não é mesmo?

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Texto extraído do livro
Tramas Espantosas
da Editora Luzes da Alvorada.
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